segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Pomerode, pedacinho da Alemanha no Brasil




No Vale do Itajaí em Santa Catarina, Pomerode é a cidade mais alemã do Brasil onde quase todos falam alemão. O idioma e mesmo antigos dialetos, como o Pratt herdado dos primeiros imigrantes, são usados para conversar na feira, nos clubes e nas pracinhas. Com a mesma tenacidade com que preservam sua linguagem, os pomeranos reverenciam a cultura de seus antepassados na arquitetura, na culinária e nos hábitos diários. 
 



A estrada de Pomerode corta o vale e desvenda lindos recantos com casas coloniais cercadas de flores e aromas. A cidade, que preserva a cultura germânica exibe com orgulho e respeito as suas tradições, transmitindo ao turista uma sensação de estar no interior da Alemanha.

A receptividade do povo de Pomerode, com seus cabelos loiros, olhos azuis e largo sorriso, é um convite para admirar suas ruas limpas, as casas em estilo enxaimel com varandas decoradas e jardins bem cuidados.
Em Pomerode a gente descobre o prazer de viver, apesar de todas as dificuldades da vida moderna.





A tradicional Festa Pomerana, que acontece todos os anos em janeiro, com seus desfiles, comidas típicas, bandinhas e concursos exóticos, é um convite para conhecer um pouco mais da cultura da cidade. A passagem do Fackelzug (desfile de Tochas) ao anoitecer mantém viva uma tradição que remonta à época da colonização quando não havia energia elétrica. As festas eram iluminadas por tochas e lamparinas num cortejo iluminado que se repete a cada ano.
São muitas as brincadeiras abertas à participação de moradores e turistas. O Schneidermüller (Serrador de Lenha) é destinado a dois homens ou duas mulheres para serrar um ronco de madeira em menor tempo. O Holzhacker (Lenhador) é destinado a quem cortar um tronco de lenha no menor tempo. O Fischerstechen são dois competidores numa canoa no meio da lagoa que tentam derrubar o adversário.
  





Uma das maiores atrações da festa é a competição do Chope em metro. O competidor precisa beber 600ml de chope diretamente da tulipa comprida, sem derramar a bebida. Vence quem beber mais rápido. E quem gosta de um bom chope artesanal não pode perder uma visita à Cervejaria Schornstein.

Em Pomerode, o bar da fábrica, serve petiscos tradicionais das culinárias holandesa e alemã, com combinações harmônicas entre petiscos e chopes. Também é possível conhecer o processo de produção em uma visita monitorada que inclui degustação das cervejas pilsen natural, cristal, weiss, pale ale, bock e Imperial stout, diretamente do tanque.

 


 

O Concurso culinário supreende o paladar com saborosas receitas criadas e preparadas por moradores de Pomerode.
A cada noite, a disputa acontece em uma categoria diferente: Bolo, Cuca, Torta Doce, Torta Salgada, Geléia, Pão, Licor e Sobremesa. Os pratos mais apetitosos e originais são eleitos os melhores da noite, segundo o gosto do público.
Liebelich (marreco recheado), Kassler ou Einsbein (joelho de poco), Apdelstrudel (torta de maçã) e muita cerveja são delícias inigualáveis. As tortas doces, como a Cuca alemã, o Strudel, Mohn Brötchen, o pãozinho redondo polvilhado com semente de papoula são especialidades pomeranas.
 





A Páscoa em Pomerode é celebrada de forma tradicional. A Osterfest tem muitos atrativos para as famílias e é divertida. Coelhinhos verdadeiros circulam para encantar as crianças, além da Ostermarkt, a feira de artesanato de Páscoa. Quem desejar aprender arte, pode frequentar as oficinas. Na decoração, a Osterbaum, uma árvore de páscoa com ovinhos e flores colore toda a cidade. Crianças e adultos pintam as casquinhas de ovos.
Em Pomerode a técnica de pintura chamada de Bauernmalarei consiste na pintura de flores campestres com leves pinceladas no formado de vírgulas. Até o século 19 este tipo de decoração era bastante utilizado em móveis de madeira maciça, mas o crescimento da indústria de móveis e popularização dos produtos, a técnica perdeu espaço. Também é encontrada a técnica Fernsterbilder, que são pedaços de madeira minuciosamente cortados como quadros vazados que enfeitavam as janelas na Alemanha antiga.  



É possível encontrar peças bem coloridas e quem tem curiosidade sobre a maneira como são produzidos pratos, xícaras e outros artigos de cerâmica, tem a chance de conhecer a maneira artesanal como são fabricados os produtos da Porcelana Schmidt. Maior fábrica do gênero na América Latina, ela abre as portas aos visitantes que lá podem ver de perto a fabricação das belas peças que formam jogos de jantar e de café.






Tanto o Centro urbano quanto as pequenas propriedades rurais ao longo do Vale do Rio Testo, oferecem muitas atrações turísticas, como o grande Jardim Zoológico, o Museu Erwin Teichmann, o Museu Pomerano, a Casa do Imigrante e o Recanto Mundo antigo.

Do Morro Azul e do Morro da Turquia se tem uma linda vista da cidade e também onde estão as pistas de decolagem para parapente e asa-delta, os pontos culminantes da região. Nos 16 Clubes de Caça e Tiro da região, que preservam as tradições e os costumes dos imigrantes alemães, há alegres competições de tiro ao alvo e de bolão, um jogo semelhante ao boliche.

É no Winterfest em julho que acontece a principal competição, elegendo o Rei do Tiro. Ao som das polcas, mazurcas, valsas, apresentações de danças típicas e festival gastronômico, pode-se descobrir que nos bastidores dessa bucólica fachada, está um povo trabalhador e alegre que tornou Pomerode uma das cidades com melhor qualidade de vida do Brasil.

 

sábado, 17 de setembro de 2011

Paraty, mística cidade dos caiçaras



Paraty é uma cidade tão antiga quanto o descobrimento do Brasil, pois ali chegaram os portugueses em 1502. Situada ao sul do estado do Rio de janeiro, na cidade pode-se caminhar tranquilamente pelas pedras irregulares de calçamento das ruas para apreciar seus antigos casarões e igrejas. 





Localizada junto ao oceano e entre dois rios, Paraty se tornou mais conhecida no século 18 quando se tornou o principal porto por onde era embarcado o ouro extraído em Minas Gerais. O ouro trouxe felicidade a alguns, mas suor para muitos índios e escravos forçados a trabalhar nas minas, na construção das estradas e no carregamento do ouro naquela época.



           


Durante a colonização do Brasil, essa trilha foi aproveitada pelos portugueses para desbravar as regiões do Vale do Paraíba e de Minas Gerais. O trajeto de quase 1200 km era percorrido em 95 dias por escravos, comerciantes e colonizadores, que desciam as montanhas em tropas de burros e mulas, carregando as riquezas das minas em Ouro Preto para o porto de Paraty no litoral. 




No caminho inverso retornando a Minas, os portugueses foram trazendo a arte e a cultura para criar povoados no alto das serras. As tropas de mulas subiam e desciam tão intensamente essas trilhas que foi necessário calçar os trechos de serra para suportar o tráfego, que existem até hoje e servem como trilhas para caminhadas e ecoturismo.






Paraty é uma cidade de arte, cultura e belezas naturais. A cidade é tão fotogênica que serve de cenário para filmes, novelas, clipes de artistas e peças publicitárias. É comum encontrar produtoras cinematográficas gravando pela cidade. 


Muitos eventos culturais e folclóricos também ocorrem em Paraty durante todo o ano, como o Encontro de Teatro de Rua, o Festival de Música Sacra, a Festa Literária Internacional, várias festas de santos durante o ano e o Festival da Cachaça.






Paraty teve no passado mais de 250 engenhos de açucar, tendo se tornado sinônimo da boa cachaça, que tem o nome de Paraty. Muitos engenhos podem ser visitados. Engenho da Muricana, Engenho Bom Retiro e o Engenho da Boa Vista onde o antigo engenho a vapor adquiriu fama por suas aguardentes, como a Azulina, produzida em alambique de barro e destilada com folhas de tangerina. 





O nome da cidade se refere a duas palavras da lingua tupy: Pirá = peixe e Ty = agua, ou seja, água de peixes. Por estar localizada quase ao nível do mar, a cidade é periodicamente inundada quando ocorre a maré alta, alagando boa parte da área junto ao mar. A Rua da Praia quando é inundada pelas águas da maré alta, tem seus casarios refletidos na água, um espetáculo que atrai a atenção. 





Muitos casarões históricos foram transformados em pousadas, restaurantes, galerias de arte e museus.  As charretes substituem os carros, que são proibidos de circular nos quarteirões do centro histórico. 




A exemplo de Óbidos em Portugal que é uma cidade maçônica, Paraty foi urbanizada por Maçons. Isso deu um toque de misticismo e esoterismo, que se mistura à história de Paraty. O primeiro padroeiro de Paraty foi São Roque, um santo místico esotérico. 

No século 18 as portas e janelas das casas de Paraty eram pintadas em branco e azul, o chamado azul-hortência da maçonaria simbólica. Os misteriosos símbolos maçônicos enfeitam as paredes. 





A maçonaria surgiu durante a Idade Média na Europa, quando a igreja católica proibiu a reunião de pessoas que pudessem colocar em risco seu domínio. Para fugir dos inquisidores católicos, a classe média formou uma espécie de associação secreta. 

Baseada na organização dos pedreiros da construção do Templo de Salomão em Israel, daí vem a relação dos maçons com pedreiros e do uso de alguns símbolos relacionados aos pedreiros. Maçom em francês significa pedreiro.


 


Segundo relatos, a Maçonaria se instalou na cidade no século 18 organizando as construções de ruas, casas e praças. O traçado torto das ruas, desencontrando as esquinas, tem muitas explicações. 

Dizem que o traçado foi feito para evitar o vento encanado nas casas e distribuir equitativamente o sol nas residências. Os três pilares de pedra lavrada encontrados em algumas esquinas, segundo diz o povo, foram colocados para formar o triângulo maçônico.

A simbologia maçônica possui uma linguagem lógica e complexa, utilizando símbolos desde figuras geométricas, sinais,
toques de mão e batidas especiais que mudam de tempos em tempos. Dizem que essa simbologia está muito presente em Paraty. Naquela época o símbolo era o abacaxi, que ainda decora a cidade. 





Paraty está entre Ubatuba-SP e Angra dos Reis-RJ. No entorno de Paraty está o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a Área de Proteção Ambiental do Cairuçú onde está a Vila da Trindade, a Reserva da Joatinga e faz limite com o Parque Estadual da Serra do Mar.

A Trilha Guaianá, também conhecida como Estrada da Serra, foi uma trilha usada pelos índios Guaianás que ligava a aldeia de cima no Vale do Rio Paraíba à aldeia de baixo que ficava em Paraty e era conhecida por suas praias de efeitos medicinais. 

Muitas cachoeiras ficam a poucos quilômetros da cidade e prometem muitas emoções, como a Cachoeira do Tobogã que tem três saltos num escorregador de pedras que termina numa piscina. Quem está acostumado, como os moradores do lugar, praticam o surf de cachoeira deslizando de pé sobre a imensa pedra lisa. Existem também outras cachoeiras, como as cachoeiras das Andorinhas e dos Ingleses que formam piscinas profundas. A cachoeira Pedra Branca é considerada uma das mais bonitas de Paraty. 






A Mata Atlântica está presente por todos os lados cercando suas praias paradisíacas. Situadas em áreas mais afastadas da cidade, as praias de Paraty podem ser acessadas por trilhas ou por passeios de barco. 

No cais é possível escolher o passeio entre diversas embarcações das 10h às 12h. O passeio dura 5 horas e algumas escunas oferecem música ao vivo, água, frutas e almoço em uma das ilhas. Na cidade há operadoras de turismo que ensinam mergulho e fazem expedições de exploração marítima. 




Um dos roteiros mais conhecidos é o que leva à Ilha Duas Irmãs, Ilha Comprida onde é possível mergulhar nas águas transparentes junto aos peixinhos, Ilha Araújo, Ilha Rasa, Ilha Algodão, Ilha Catimbau e às praias Vermelha e da Lula.





Quem busca praias desertas, opta pelo passeio que segue para Saco do Mamanguá, Cajaíba, Martim de Sá e Ponta Negra. Para apreciar alguns dos cenários mais bonitos da região, como a rústica Praia do Sono e as piscinas do Cachadaço, a direção é para a Vila de Trindade. Reduto de jovens, fica a 20 quilômetros por estrada asfaltada.





A Vila Trindade, situada na Área de Proteção Ambiental do Cairuçú é protegida pela Mata Atlântica. Praticamente isolada e com acesso passando por uma pequena serra, suas praias, piscinas naturais, trilhas e cachoeiras são atrações para turistas e ecologistas, principalmente no verão, quando lindos pássaros enfeitam a vila.

Birdwatching ou observação de pássaros é uma atividade que começou na Inglaterra e hoje muitas pessoas se
interessam em ver e estudar os hábitos das aves. São Sairas das mais diversas cores, Sanhaços, Tiés Sangue, Periquitos, Beija Flor, Tucanos, Canários, Gaivos e outros. 





Trindade tem uma história que inclui índios, piratas, portugueses, navios com tesouros, pescadores e hippies. Durante a década de 1970 virou reduto e símbolo dos hippies. Na década de 1980 era o lugar dos aventureiros que vinham de longe, enfrentando a terrível estrada de terra, em especial o trecho de subida conhecida como Deus Me Livre, para acampar nas praias paradisíacas. Hoje, a Deus me livre é asfaltada.





Mas também apareciam caçadores de tesouros, motivados pelas lendas sobre piratas e tesouros escondidos.
Em 1970 apareceram por lá homens armados querendo expulsar os moradores porque diziam que a área pertencia a uma empresa que iria construir um condomínio de luxo. 

Os moradores se reuniram criando uma associação que lutava pela preservação ambiental e impediram a destruição das matas e belezas naturais da vila. Assim, Trindade existe até hoje como um refúgio, onde muitos pássaros vão cantar.





Em Trindade existem várias praias tranquilas com longas faixas de areia como a Praia do Meio, que é a mais movimentada e a praia dos Ranchos. Há bares e restaurantes e são as mais próximas de Trindade. 

As praias Brava, Caxadaço e Cepilho tem ondas e correntezas fortes Apesar de ter boas ondas para surf, não são indicadas para mergulho. A mais perigosa é uma parte da praia chamada de Praia do Perigo. 

Como o próprio nome indica, qualquer alteração do mar altera suas condições. Por isso, é totalmente deserta, mas pode ser vista de uma grande rocha na praia do Cepilho. A praia das Figueiras ou dos Pelados é exclusiva para prática de naturismo.





A deserta Praia Brava é onde está escondida a cachoeira mais linda da Trindade. Situada a 2 km antes de chegar na vila, o acesso é feito por trilha ou de barco, mas as ondas são fortes e a saída do barco depende das condições do mar. 

Barcos também saem para a Praia da Galetinha, que só tem acesso de barco. Para quem gosta de natureza e muita aventura, o Paraty Sport Aventura é o maior parque de arvorismo em meio natural do Brasil. São vários percursos de arvorismo, caiaques, trilhas, rappel e canionismo.

 



Considerada uma das mais bonitas da região, a Praia do Sono é extensa, com areia fina e amendoeiras na orla da praia. Frequentada por jovens na área de camping, tem acesso por uma trilha que começa em Laranjeiras ou por barco vindo de Trindade, mas a trilha é a melhor opção. 

Na Praia do Sono vivem os caiçaras, uma comunidade de pescadores e monitores que acompanham os ecoturistas pelas caminhadas inesquecíveis. Caiçara é uma palavra tupi - kaisara - nome dado a uma armação com várias estacas de madeira que protegiam as casas dos índios ou aldeias. 

Também é nome de uma armadilha para peixes feita com galhos de árvores. A pesca do cerco ainda é bastante comum no Sono. Essa forma de pesca é considerada menos agressivas ao meio ambiente pois os peixes menores passam pelas malhas e quando entra uma tartaruga os pescadores conseguem tirá-las sem nenhum ferimento.





Dizem que deram o nome à Praia do Sono devido às montanhas que cercam a praia; o sol aparece mais tarde e se põe mais cedo, assim nesse vilarejo o dia é menor e a noite é maior. Além disso, não existe energia elétrica na vila e os moradores usam lampião, por isso vão dormir mais cedo. 

E, por não ter frigorifico, os peixes são pendurados nos varais por 3 dias, fazendo o peixe seco que é uma iguaria apreciada. Outra delícia da cozinha caiçara é o café de cana; que é coado com suco da cana de açúcar. 

Muitas casas tem cozinha com chão de terra batido, fogão de lenha e tacho para cozinhar. No quintal, galinheiro, uma peça de madeira para moer cana, o pilão para moer mandioca e fazer farinha. Algumas casas tem paredes pintadas com barro branco, que dizem ser encontrada em lugares distantes na mata.

Os barcos são feitos a mão
escavando o tronco de cedro, timbuiba ou ingá. Contam os pescadores, que na década de 1950 um homem comprou uma fazenda e incorporou a Praia do Sono à sua propriedade e tentou expulsar os caiçaras. Muitos resistiram e moram ali até hoje. 





A praia da Ponta Negra ainda preserva grande parte da cultura caiçara. Na vila, rodeada de Mata Atlântica, com 2 corredeiras e uma vista espetacular para o mar, vive uma comunidade em plena harmonia com a natureza. A vila não tem energia elétrica, mas uma ONG inglesa doou para todos os moradores um sistema de placas que produz energia solar para a vila, onde muitas casas são feitas de sapê. 

Antigos e Antiguinhos são duas praias desertas que ficam entre a Praia do Sono e a Ponta Negra. Uma corredeira que
deságua na praia forma várias piscinas de água doce, onde pode-se nadar ou simplesmente estar entre a mata e o mar, um local que alguns vão para meditar.

Ilhotes é um espaço de artesanato local dedicado à história do povo caiçara que
com muita luta, fé e união, resistiu à ambição de multinacionais que pretendiam tomar suas terras. Defendendo seus direitos, suas terras, suas famílias e seus valores, defenderam o mais importante, a sua dignidade.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Candelária, antiga morada dos tecodontes



Candelária, no estado do Rio Grande do Sul, além de uma bela paisagem que parece uma pintura, tem uma história interessante e muitas lendas. Na região viviam 6.000 índios da nação tupi guarani que tinham grandes rebanhos de bois, cabras e porcos. Isso atraiu a atenção dos bandeirantes que formaram uma expedição com a finalidade de aprisionar os índios e escravizá-los, além de tomar suas terras. Em 1636, numa batalha que durou 6 horas, os bandeirantes venceram e terminava um capitulo da história de Candelária.



Dois filhos de imigrantes alemães, João Kochenborger e Jacob Welsch, decidiram mudar para a Candelária em 1862 e construiram um aqueduto para transportar água até sua propriedade, onde a força da água movimentava um engenho de serra e um moinho de milho e trigo.

A obra arquitetônica de rara beleza sem similar no estado, mede 304 metros de comprimento e possui 79 arcos que são artisticamente e simetricamente distribuídos. Os milhares de tijolos empregados na obra foram feitos manualmente e hoje o aqueduto é um ponto turístico da cidade.



Devido à sua colonização, muitos alemães se mudaram para a cidade influenciando a cultura, onde é comum o idioma alemão e muitas bicicletas. A diversão na cidade é principalmente no Balneário Carlos Larger, a popular Prainha, um lugar agradável e descontraído. Mas quem tem espírito aventureiro pode banhar-se nas águas geladas da Cascata da Ferradura. Pouco conhecida e escondida em um vale, entre penhascos e matas, a cachoeira tem 52 metros de altura.

O Morro Botucaraí, conhecido como o Santo Cerro, é um dos morros isolados mais altos do estado, que além de belo é cercado de muitas lendas. O morro era adorado pelos indígenas tupi-guaranis que viviam ali e chamavam o morro de ybyty-caray que significa Monte Santo.







No final do século passado, viveu ali um eremita italiano que tinha a fama de curar enfermos. As virtudes milagrosas da flora do Botucaraí e da água cristalina que brota da rocha marcaram aquela gente simples que habitava a região. Até hoje o Monte é considerado um local de fé, onde peregrinos vão orar e beber das aguas santas da fonte, principalmente na sexta-feira santa, na páscoa e no natal.

Uma das lendas conta que em 1850 um grupo de jovens foi escalar o morro e acampar no topo. Na metade da escalada o tempo mudou repentinamente caindo uma grande tempestade e eles se refugiaram numa caverna. Chegou a noite e quando amanheceu um dos jovens percebeu que seus amigos tinham sumido misteriosamente. Apesar das intensas buscas, os demais jovens nunca foram encontrados. Transtornado, o jovem sobrevivente passou a morar sozinho no morro e jurava que seus amigos desaparecidos o visitavam no morro todas as noites.



A Candelária faz parte do Geoparque da Paleorrota onde há uma grande quantidade de fósseis de dinossauros e descoberta uma espécie Guaibassauro. O vale, no centro do Rio Grande do Sul, é uma janela para o passado. O acervo de fósseis inclui bichos com grandes bocarras de mais de 1 metro e gigantes que faziam o chão tremer quando caminhavam por essas terras. Pesquisas indicam que era o berço dos dinossauros e onde também surgiram os primeiros mamíferos.

Ao longo da estrada conhecida como a Paleorrota foram descobertos os rastros desses animais que viveram na terra há mais de 200 milhões de anos. A última descoberta na região foi de o fóssil de um Tecodonte, uma criatura mais antiga que os dinossauros. Pesquisas indicam que o animal foi soterrado por uma grande enchente e era a criatura mais temida do planeta. Essas descobertas revelam um elo entre os répteis e os mamíferos, que levou ao surgimento da espécie humana.

Numa região próxima à Candelária, quando houve grandes enchentes em 2010, a enxurrada lavou sedimentos do terreno onde já havia sido encontrado fósseis. Percorrendo a região, paleontólogos descobriram vários esqueletos de grandes animais pré-históricos porque ali era um lago.

No megacontinente Pangea, onde hoje é o Brasil, havia um enorme deserto maior do que qualquer outro que jamais existiu. Quando os continentes começaram a se separar, o clima mudou drasticamente formando um lago. O Sul do Brasil se tornou mais favorável para os animais. Há 238 milhões de anos, os Tecodontes dominavam essa região e posteriormente os dinossauros se espalharam por todo território brasileiro.

domingo, 11 de setembro de 2011

Arembepe, a comunidade da Era de aquário




Entre Salvador e Mata de São João está Arembepe, um local onde a filosofia de vida e o contato com a natureza já mergulhou nos conceitos da Era de aquário. Arembepe vem do tupi-guarani e significa “aquilo que nos envolve”. O pequeno povoado é um dos portões de entrada para a Costa dos Coqueiros que concentra bons hotéis, restaurantes, pousadas, bares, uma sede do Projeto Tamar e a primeira Aldeia Hippie do Brasil.

Com uma faixa litorânea de 7 km, Arembepe está dividida em 5 praias, sendo as mais conhecidas a de Piruí e a do Porto, principalmente devido às piscinas naturais. A praia tem muitas rochas que formam cachoeirinhas e quando a maré está enchendo é fascinante ver o impacto das águas nas rochas que formam as piscinas naturais.

Outra atração de Arembepe é o Rio Capivara. O Açu do Capivara é um trecho de rio onde se pode refrescar em suas águas limpas e também um ponto para pescaria. Para quem gosta de uma boa trilha, a dica é atravessar o Capivara de canoa e seguir pelos inúmeros caminhos, sendo indispensável a presença de guias.













Conhecida internacionalmente, Arembepe é considerada um refúgio ecológico de vegetação preservada com bons hoteis e pousadas. O festival de Arembepe acontece na Lua Cheia de janeiro quando vários movimentos alternativos de várias partes do mundo se encontram e organizam intervenções culturais em Arembepe, como espetáculos de dança, apresentação de peças, monólogos e toda diversidade cultural.







Em Arembepe existe uma aldeia hippie instalada ali desde 1970, um reduto com cabanas rústicas construídas com madeira e palha, sem energia elétrica e sem o conforto da vida moderna. Mas para quem mora ali pouco importa, o que importa é a paz e a beleza natural. Por ali não circulam carros e o acesso é feito caminhando, por isso o lugar é bem preservado.

Nos anos 60, muitos jovens passaram a contestar a sociedade e a pôr em causa os valores tradicionais. Esses movimentos de contestação iniciaram-se nos EUA, quando os hippies defendiam o amor livre e a não violência. Adeptos do pacifismo e, contrários à guerra do Vietnã, participaram de algumas manifestações anti-guerra dos anos 60. Ir contra qualquer tipo de manifestação política também faz parte da cultura hippie, que privilegia muito mais o bem estar da alma e do indivíduo.









Por volta de 1970, muito do estilo hippie se tornou parte da cultura principal, porém muito pouco da sua essência. A grande imprensa perdeu seu interesse na subcultura hippie como tal, apesar de muitos hippies terem continuado a manter uma profunda ligação com a mesma. Como os hippies tenderam a evitar publicidade após a era do Verão do amor e de Woodstock, surgiu um mito popular de que o movimento hippie não mais existia.

O movimento hippie ainda existe em comunidades mundo afora e ainda hoje, muitos buscam festivais que proporcionam encontros para celebrar a vida e o amor, como no Peace Fest. Pelas ruas de Arembepe, gente de várias nacionalidades e um emaranhado de línguas estrangeiras se misturam aos mais variados sotaques brasileiros, criando uma miscelânea cultural que combina com a simplicidade do vilarejo.

Na aldeia existe um centro de artesanato, restaurante, escola e 40 cabanas. As moradias ainda oferecem estadias para turistas e espaços para camping. Os preços das diárias são baixos e variam entre R$ 10 e R$ 30. Mas o que atrai mesmo gente de fora é o clima de liberdade típico do movimento hippie das décadas de 60 e 70. Já estiveram na Aldeia de Arembepe.: Mick Jagger, Janis Joplin, Roman Polanski, Caetano Veloso, Raul Seixas e tantos outros que foram relaxar suas mentes por essas praias baianas.






Existe uma base do Projeto Tamar que há muito tempo desenvolve um programa de preservação das tartarugas marinhas, transformando parte da praia em um verdadeiro santuário para a desova e criando os filhotes em tanques. Nos meses de primavera-verão, entre setembro e março, é possível assistir o nascimento de filhotes ao lado dos biólogos e técnicos do Projeto Tamar que cuidam da preservação da espécie. Arembepe é uma das regiões onde existe um dos maiores índices de desovas de tartarugas marinhas no mundo.

Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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