quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Belterra, a terra americana que Henry Ford não conheceu






Situada a 50 km da capital do Pará, Belterra é uma pequena cidade que guarda as lembranças de um passado de glória. Tudo começou em 1920, quando Henry Ford, que era um grande construtor dos primeiros veículos a motor. 

Ele se interessou pelo látex extraído dos seringais da Amazônia, com a intenção de transformar o látex em borracha, para produzir um excelente pneu para os carros fabricados por sua empresa Ford Motor Company. 



Henry Ford


Assim Henry Ford mandou construir um pequeno vilarejo em meio a um milhão de hectares, ao qual foi dado o nome de Fordlândia. Foi iniciada uma grande plantação de seringueiras, pois Henry Ford pretendia criar naquele local a maior produção de borracha natural do mundo. 

A vila foi construída com a mesma arquitetura das vilas dos Estados Unidos. No entanto, quando Henry Ford estava prestes a embarcar para o Brasil para conhecer o seu mais novo empreendimento, ele teve de desistir devido ao falecimento do filho.  



antigo galpao de Fordlândia


Pouco tempo depois ocorreu uma grande incidência de pragas nos seringais, obrigando Henry Ford a buscar um novo local para sua plantação. Dessa época restaram os antigos galpões, que se deterioraram com o tempo. 

A antiga caixa d'água, com 50 metros de altura, foi construída em Michigan e trazida para o Brasil em navio mercante. Tanto a torre de água, quanto a estação de tratamento e todas as suas canalizações  originais ainda estão lá e funcionam.



Pracinha de Belterra


Nova cidade: Uma nova área encontrada tinha solo fértil para a plantação dos seringais. Por ser próxima ao Rio Tapajós, se mostrou bem apropriada para o escoamento da produção. E assim Henry Ford decidiu construir uma nova cidade, que foi chamada de Bela Terra ou Belterra.  

Os primeiros operários contratados em 1934, deram início à construção das casas e de um hospital. A forma de contratação dos trabalhadores, que era a mesma adotada nos Estados Unidos, serviu de base para a criação das leis trabalhistas adotadas no Brasil, tendo sido estabelecidas sob o governo do Presidente brasileiro Getúlio Vargas em 1943. 



extração artesanal do látex



O látex extraído em Belterra se tornou uma grande fonte de lucro. Entre os anos de 1938 a 1940 Belterra foi uma das maiores produtoras de látex do mundo. 

Porém, com o final da 2ª Guerra Mundial e a consequente importação da borracha do Sudeste Asiático, além da grande incidência de pragas nos seringais, a Companhia Ford desistiu do projeto, que estava planejado para durar um século.  



Seringais de Belterra


Com o falecimento de Henry Ford, em 1947 seu neto Henry Ford II assumiu o comando da empresa nos Estados Unidos e decidiu encerrar definitivamente o projeto de plantação de seringueiras no Brasil.

O lugar ficou abandonado durante 39 anos, até que em 1997 o pequeno vilarejo foi transformado em cidade. Andando pela cidade ainda é possível encontrar as seringueiras, que são predominantes na paisagem.






Centro de Memória de Belterra: No Bosque das Seringueiras encontra-se o Centro de Memória de Belterra, que guarda árvores do período extrativista. O lugar possui um arquivo de fotos, vídeos e documentos originais.






Igreja Matriz de Santo Antônio de Pádua: A igreja ainda conserva os vitrais e as imagens da época da fundação da vila, mas a arquitetura atual da igreja não é a original.






A antiga igreja construída em madeira, sob a orientação dos frades norte-americanos que atuavam como missionários na região do rio Tapajós, foi demolida para dar lugar à construção da nova igreja.






As demais construções permaneceram intactas e praticamente nada mudou na cidade. A pista de atletismo construída para os trabalhadores da Ford, a igreja, o hospital e toda infraestrutura ainda está lá praticamente intocada.






Casa de Henry Ford / Casa Um: A arquitetura das construções foi inspirada no modelo americano. Apesar de administrar a cidade e ter uma casa especialmente construída para ele, Henry Ford nunca veio realmente a Belterra, pois tinha receio de contrair alguma doença tropical.

Chamada de "Casa Um" e localizada na estrada 02, a casa tem uma vista privilegiada do Rio Tapajós. Possui ampla varanda, grande salão e várias dependências com utensílios originais deixados pelos americanos.






Belterra parece o cenário de um antigo filme do oeste americano. Os bairros residenciais de Belterra foram divididos em Vila dos Americanos, Vila dos Mensalistas e Vila dos Operários. 






A primeira vila abrigava o mais alto escalão de funcionários da Ford, que vinham dos Estados Unidos e moravam nas casas maiores. Na Vila dos Mensalistas, ligeiramente menores, morava o escalão intermediário. Já a Vila dos Operários, bem mais simples, era onde viviam os amazônidas e nordestinos, que trabalhavam na extração do látex. 






Ainda hoje as casas das vilas mantém o padrão de cor verde e branco, com poucas alterações nas fachadas. Os belos jardins estão por toda parte, com variadas e coloridas plantas.

A jardinagem é uma tradição de muitos anos, já que a esposa de Henry Ford era uma entusiasta da jardinagem e promovia competições para eleger quem cultivava o jardim mais bonito. Assim nasceu o costume de plantar flores na soleira da porta.






Hidrantes de Belterra: Uma das marcas da presença "fordista" na cidade são os famosos hidrantes vermelhos, que permaneceram como uma lembrança de Henry Ford, que sonhou com uma cidade americana no coração do Pará.






Praias do Rio Tapajós: A cidade foi construída junto ao Rio Tapajós e suas águas servem como meio de subsistência dos ribeirinhos. Mas também oferece muitas praias de areias branquíssimas e águas limpas. 






Pindobal, Porto Novo e Aramanaí são as praias próximas a Belterra, compartilhadas com Alter do Chão, um lugar que é considerado como o Caribe brasileiro. 




Floresta do Tapajós: Junto a Belterra encontra-se a Floresta do Tapajós, onde são encontradas diversas espécies de árvores. Segundo contam, um mateiro de Belterra acompanhou um botânico inglês, que foi contratado para fazer pesquisas nos seringais e dar nomes às árvores e todas as demais plantas da floresta. 

O mateiro era um senhor analfabeto, mas tinha uma memória privilegiada. Depois de trabalhar por muitos anos com o pesquisador inglês, ele decorou o nome científico e o nome popular de cada árvore, flor, arbusto, cipó e as demais vegetação da floresta, até que o inevitável aconteceu.  

O inglês foi embora e levou com ele todo estudo de anos e anos sobre as plantas da floresta. Somente aquele incrível senhor analfabeto guardou na memória o importante estudo. Quem lhe pergunta, recebe uma verdadeira aula de botânica e biologia.






Samaúma gigante: Entre as árvores mais extraordinárias e exuberantes destaca-se a famosa Samaúma gigante. Carinhosamente chamada de "Vovozona" por ter mais de 300 anos, ela mede cerca de 45 metros de altura e para abraçá-la são necessários mais de 20 adultos.

Essa é uma das da Amazônia. Calcula-se que ela tenha mais de 20 metros de diâmetro. Sua copa se projeta acima de todas as demais servindo de abrigo e proteção para inúmeros pássaros e insetos. 

Acessível através de uma trilha de 14 km de extensão, essa é uma experiência inesquecível. Outrora servia como meio de comunicação da floresta. Ao ser golpeada com códigos elaborados como o morse, elas emitem um som que ecoa por longas distâncias.






Esotéricos afirmam que na base da Samaúma há um portal que conecta a realidade com o universo espiritual. Através dele seres mitológicos das matas entram e saem. Sagrada para povos originários, dizem que ela tem muitas propriedades medicinais. 

Certas substâncias químicas extraídas da casca das raízes combatem algumas bactérias e fungos, enquanto outras partes podem ser utilizadas para a cura de doenças. 

Cientificamente sabe-se que a Samaúma obtém água das profundezas do solo e irriga não somente a si, mas também todas as espécies em seu entorno. Essa característica única a torna a “mãe” da floresta, já que a água é preciosa para manter a sobrevivência de todo ser vivo. 

Ao estar junto da Samaúma gigante, ela nos lembra da nossa pequenez. A paz do lugar, completamente isolado e imerso na natureza, consegue deixar a experiência surreal. Só se ouve pássaros, insetos e ruídos de bichos, dos quais é impossível identificar quais sejam... 







Festival de Açaí: E, já que estamos falando da floresta amazônica, nela é encontrada a valiosa árvore que produz o açai. Utilizado como alimento primeiramente pelos povos da floresta, o açaí se tornou famoso e alcançou outros países.





  
Todos os anos Belterra realiza o Festival de Açai, que coloca à venda muitos artesanatos, além de comidas típicas regionais e derivados do açaí. O festival tem como objetivo fomentar a cultura do açaí na região e colocar a comunidade no roteiro dos eventos da Amazônia. 





Durante os dois dias do festival são realizados torneios esportivos e apresentações folclóricas, uma boa oportunidade para dançar o Carimbó, música típica do Pará. 




Nenhum comentário:

Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

Seguidores