sábado, 17 de setembro de 2011

Paraty, mística cidade dos caiçaras



Paraty é uma cidade tão antiga quanto o descobrimento do Brasil, pois ali chegaram os portugueses em 1502. Situada ao sul do estado do Rio de janeiro, na cidade pode-se caminhar tranquilamente pelas pedras irregulares de calçamento das ruas para apreciar seus antigos casarões e igrejas. 





Localizada junto ao oceano e entre dois rios, Paraty se tornou mais conhecida no século 18 quando se tornou o principal porto por onde era embarcado o ouro extraído em Minas Gerais. O ouro trouxe felicidade a alguns, mas suor para muitos índios e escravos forçados a trabalhar nas minas, na construção das estradas e no carregamento do ouro naquela época.



           


Durante a colonização do Brasil, essa trilha foi aproveitada pelos portugueses para desbravar as regiões do Vale do Paraíba e de Minas Gerais. O trajeto de quase 1200 km era percorrido em 95 dias por escravos, comerciantes e colonizadores, que desciam as montanhas em tropas de burros e mulas, carregando as riquezas das minas em Ouro Preto para o porto de Paraty no litoral. 




No caminho inverso retornando a Minas, os portugueses foram trazendo a arte e a cultura para criar povoados no alto das serras. As tropas de mulas subiam e desciam tão intensamente essas trilhas que foi necessário calçar os trechos de serra para suportar o tráfego, que existem até hoje e servem como trilhas para caminhadas e ecoturismo.






Paraty é uma cidade de arte, cultura e belezas naturais. A cidade é tão fotogênica que serve de cenário para filmes, novelas, clipes de artistas e peças publicitárias. É comum encontrar produtoras cinematográficas gravando pela cidade. 


Muitos eventos culturais e folclóricos também ocorrem em Paraty durante todo o ano, como o Encontro de Teatro de Rua, o Festival de Música Sacra, a Festa Literária Internacional, várias festas de santos durante o ano e o Festival da Cachaça.






Paraty teve no passado mais de 250 engenhos de açucar, tendo se tornado sinônimo da boa cachaça, que tem o nome de Paraty. Muitos engenhos podem ser visitados. Engenho da Muricana, Engenho Bom Retiro e o Engenho da Boa Vista onde o antigo engenho a vapor adquiriu fama por suas aguardentes, como a Azulina, produzida em alambique de barro e destilada com folhas de tangerina. 





O nome da cidade se refere a duas palavras da lingua tupy: Pirá = peixe e Ty = agua, ou seja, água de peixes. Por estar localizada quase ao nível do mar, a cidade é periodicamente inundada quando ocorre a maré alta, alagando boa parte da área junto ao mar. A Rua da Praia quando é inundada pelas águas da maré alta, tem seus casarios refletidos na água, um espetáculo que atrai a atenção. 





Muitos casarões históricos foram transformados em pousadas, restaurantes, galerias de arte e museus.  As charretes substituem os carros, que são proibidos de circular nos quarteirões do centro histórico. 




A exemplo de Óbidos em Portugal que é uma cidade maçônica, Paraty foi urbanizada por Maçons. Isso deu um toque de misticismo e esoterismo, que se mistura à história de Paraty. O primeiro padroeiro de Paraty foi São Roque, um santo místico esotérico. 

No século 18 as portas e janelas das casas de Paraty eram pintadas em branco e azul, o chamado azul-hortência da maçonaria simbólica. Os misteriosos símbolos maçônicos enfeitam as paredes. 





A maçonaria surgiu durante a Idade Média na Europa, quando a igreja católica proibiu a reunião de pessoas que pudessem colocar em risco seu domínio. Para fugir dos inquisidores católicos, a classe média formou uma espécie de associação secreta. 

Baseada na organização dos pedreiros da construção do Templo de Salomão em Israel, daí vem a relação dos maçons com pedreiros e do uso de alguns símbolos relacionados aos pedreiros. Maçom em francês significa pedreiro.


 


Segundo relatos, a Maçonaria se instalou na cidade no século 18 organizando as construções de ruas, casas e praças. O traçado torto das ruas, desencontrando as esquinas, tem muitas explicações. 

Dizem que o traçado foi feito para evitar o vento encanado nas casas e distribuir equitativamente o sol nas residências. Os três pilares de pedra lavrada encontrados em algumas esquinas, segundo diz o povo, foram colocados para formar o triângulo maçônico.

A simbologia maçônica possui uma linguagem lógica e complexa, utilizando símbolos desde figuras geométricas, sinais,
toques de mão e batidas especiais que mudam de tempos em tempos. Dizem que essa simbologia está muito presente em Paraty. Naquela época o símbolo era o abacaxi, que ainda decora a cidade. 





Paraty está entre Ubatuba-SP e Angra dos Reis-RJ. No entorno de Paraty está o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a Área de Proteção Ambiental do Cairuçú onde está a Vila da Trindade, a Reserva da Joatinga e faz limite com o Parque Estadual da Serra do Mar.

A Trilha Guaianá, também conhecida como Estrada da Serra, foi uma trilha usada pelos índios Guaianás que ligava a aldeia de cima no Vale do Rio Paraíba à aldeia de baixo que ficava em Paraty e era conhecida por suas praias de efeitos medicinais. 

Muitas cachoeiras ficam a poucos quilômetros da cidade e prometem muitas emoções, como a Cachoeira do Tobogã que tem três saltos num escorregador de pedras que termina numa piscina. Quem está acostumado, como os moradores do lugar, praticam o surf de cachoeira deslizando de pé sobre a imensa pedra lisa. Existem também outras cachoeiras, como as cachoeiras das Andorinhas e dos Ingleses que formam piscinas profundas. A cachoeira Pedra Branca é considerada uma das mais bonitas de Paraty. 






A Mata Atlântica está presente por todos os lados cercando suas praias paradisíacas. Situadas em áreas mais afastadas da cidade, as praias de Paraty podem ser acessadas por trilhas ou por passeios de barco. 

No cais é possível escolher o passeio entre diversas embarcações das 10h às 12h. O passeio dura 5 horas e algumas escunas oferecem música ao vivo, água, frutas e almoço em uma das ilhas. Na cidade há operadoras de turismo que ensinam mergulho e fazem expedições de exploração marítima. 




Um dos roteiros mais conhecidos é o que leva à Ilha Duas Irmãs, Ilha Comprida onde é possível mergulhar nas águas transparentes junto aos peixinhos, Ilha Araújo, Ilha Rasa, Ilha Algodão, Ilha Catimbau e às praias Vermelha e da Lula.





Quem busca praias desertas, opta pelo passeio que segue para Saco do Mamanguá, Cajaíba, Martim de Sá e Ponta Negra. Para apreciar alguns dos cenários mais bonitos da região, como a rústica Praia do Sono e as piscinas do Cachadaço, a direção é para a Vila de Trindade. Reduto de jovens, fica a 20 quilômetros por estrada asfaltada.





A Vila Trindade, situada na Área de Proteção Ambiental do Cairuçú é protegida pela Mata Atlântica. Praticamente isolada e com acesso passando por uma pequena serra, suas praias, piscinas naturais, trilhas e cachoeiras são atrações para turistas e ecologistas, principalmente no verão, quando lindos pássaros enfeitam a vila.

Birdwatching ou observação de pássaros é uma atividade que começou na Inglaterra e hoje muitas pessoas se
interessam em ver e estudar os hábitos das aves. São Sairas das mais diversas cores, Sanhaços, Tiés Sangue, Periquitos, Beija Flor, Tucanos, Canários, Gaivos e outros. 





Trindade tem uma história que inclui índios, piratas, portugueses, navios com tesouros, pescadores e hippies. Durante a década de 1970 virou reduto e símbolo dos hippies. Na década de 1980 era o lugar dos aventureiros que vinham de longe, enfrentando a terrível estrada de terra, em especial o trecho de subida conhecida como Deus Me Livre, para acampar nas praias paradisíacas. Hoje, a Deus me livre é asfaltada.





Mas também apareciam caçadores de tesouros, motivados pelas lendas sobre piratas e tesouros escondidos.
Em 1970 apareceram por lá homens armados querendo expulsar os moradores porque diziam que a área pertencia a uma empresa que iria construir um condomínio de luxo. 

Os moradores se reuniram criando uma associação que lutava pela preservação ambiental e impediram a destruição das matas e belezas naturais da vila. Assim, Trindade existe até hoje como um refúgio, onde muitos pássaros vão cantar.





Em Trindade existem várias praias tranquilas com longas faixas de areia como a Praia do Meio, que é a mais movimentada e a praia dos Ranchos. Há bares e restaurantes e são as mais próximas de Trindade. 

As praias Brava, Caxadaço e Cepilho tem ondas e correntezas fortes Apesar de ter boas ondas para surf, não são indicadas para mergulho. A mais perigosa é uma parte da praia chamada de Praia do Perigo. 

Como o próprio nome indica, qualquer alteração do mar altera suas condições. Por isso, é totalmente deserta, mas pode ser vista de uma grande rocha na praia do Cepilho. A praia das Figueiras ou dos Pelados é exclusiva para prática de naturismo.





A deserta Praia Brava é onde está escondida a cachoeira mais linda da Trindade. Situada a 2 km antes de chegar na vila, o acesso é feito por trilha ou de barco, mas as ondas são fortes e a saída do barco depende das condições do mar. 

Barcos também saem para a Praia da Galetinha, que só tem acesso de barco. Para quem gosta de natureza e muita aventura, o Paraty Sport Aventura é o maior parque de arvorismo em meio natural do Brasil. São vários percursos de arvorismo, caiaques, trilhas, rappel e canionismo.

 



Considerada uma das mais bonitas da região, a Praia do Sono é extensa, com areia fina e amendoeiras na orla da praia. Frequentada por jovens na área de camping, tem acesso por uma trilha que começa em Laranjeiras ou por barco vindo de Trindade, mas a trilha é a melhor opção. 

Na Praia do Sono vivem os caiçaras, uma comunidade de pescadores e monitores que acompanham os ecoturistas pelas caminhadas inesquecíveis. Caiçara é uma palavra tupi - kaisara - nome dado a uma armação com várias estacas de madeira que protegiam as casas dos índios ou aldeias. 

Também é nome de uma armadilha para peixes feita com galhos de árvores. A pesca do cerco ainda é bastante comum no Sono. Essa forma de pesca é considerada menos agressivas ao meio ambiente pois os peixes menores passam pelas malhas e quando entra uma tartaruga os pescadores conseguem tirá-las sem nenhum ferimento.





Dizem que deram o nome à Praia do Sono devido às montanhas que cercam a praia; o sol aparece mais tarde e se põe mais cedo, assim nesse vilarejo o dia é menor e a noite é maior. Além disso, não existe energia elétrica na vila e os moradores usam lampião, por isso vão dormir mais cedo. 

E, por não ter frigorifico, os peixes são pendurados nos varais por 3 dias, fazendo o peixe seco que é uma iguaria apreciada. Outra delícia da cozinha caiçara é o café de cana; que é coado com suco da cana de açúcar. 

Muitas casas tem cozinha com chão de terra batido, fogão de lenha e tacho para cozinhar. No quintal, galinheiro, uma peça de madeira para moer cana, o pilão para moer mandioca e fazer farinha. Algumas casas tem paredes pintadas com barro branco, que dizem ser encontrada em lugares distantes na mata.

Os barcos são feitos a mão
escavando o tronco de cedro, timbuiba ou ingá. Contam os pescadores, que na década de 1950 um homem comprou uma fazenda e incorporou a Praia do Sono à sua propriedade e tentou expulsar os caiçaras. Muitos resistiram e moram ali até hoje. 





A praia da Ponta Negra ainda preserva grande parte da cultura caiçara. Na vila, rodeada de Mata Atlântica, com 2 corredeiras e uma vista espetacular para o mar, vive uma comunidade em plena harmonia com a natureza. A vila não tem energia elétrica, mas uma ONG inglesa doou para todos os moradores um sistema de placas que produz energia solar para a vila, onde muitas casas são feitas de sapê. 

Antigos e Antiguinhos são duas praias desertas que ficam entre a Praia do Sono e a Ponta Negra. Uma corredeira que
deságua na praia forma várias piscinas de água doce, onde pode-se nadar ou simplesmente estar entre a mata e o mar, um local que alguns vão para meditar.

Ilhotes é um espaço de artesanato local dedicado à história do povo caiçara que
com muita luta, fé e união, resistiu à ambição de multinacionais que pretendiam tomar suas terras. Defendendo seus direitos, suas terras, suas famílias e seus valores, defenderam o mais importante, a sua dignidade.


2 comentários:

Astrid Annabelle disse...

Hoje pesquisando no Google atrás de uma imagem de praia, encontrei com este seu post Lucia. Achei tão lindo!
Usei uma das suas imagens como capa do meu perfil no Facebook...
https://www.facebook.com/mjprabhuta...
com um link para cá...
Parabéns por seu capricho!!
Um beijo doce.
Astrid Annabelle

Lucia de Belo Horizonte / MG disse...

Obrigado por sua ilustre visita Astrid; é um prazer tê-la aqui. Mais lindo do que esses lugares, é a sua existência. Obrigado por existir. Abração pra você, querida e admirada amiga.

Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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