Situada no extremo sul de Minas, entre vales da Serra da Mantiqueira, a pequena cidade de Marmelópolis possui paisagens exuberantes, rios e cachoeiras, que correm pela mata enfeitada por araucárias e muitas flores.
A cidade integra o Circuito Turístico Terras Altas da Mantiqueira e é o ponto de partida para explorar montanhas, picos e quedas d'água, que atraem montanhistas de todo o país em busca do Turismo de Aventura.
Marmelópolis é o ponto de partida para os picos do Marins, Marinzinho e Itaguaré. Localizados a mais de 2000 metros de altitude, as subidas para os 3 picos são bem íngrimes e cada uma tem uma característica diferente.
O Pico dos Marins, com 2432 metros de altitude, é um dos mais altos da Serra da Mantiqueira e tem vista para todo o vale do Paraíba. As trilhas são bem sinalizadas e na volta ainda pode-se conhecer a Pedra Montada, que se encontra a 1863 metros.
O Pico Itaguaré com 2308 metros tem torres de pedra que lembram um castelo mal-assombrado. São muitos degraus altos formados pela erosão, que faz os joelhos reclamarem na hora da descida.
Para os mais dispostos existe a opção de fazer a travessia que vai do Marins até o Itaguaré. Ela dura 3 dias e a parte mais complicada é levar água, já que a crista das montanhas é seca. Essa travessia é famosa e foi aberta pelo Sr Maeda.
Pousada e Camping Maeda |
Bem no pé do Pico do Marinzinho está a Pousada e Camping do Sr Maeda, um senhor de 75 anos que veio do Japão com o sonho de conhecer Machu Picchu.
Por causa da viagem ao Peru, acabou residindo no Brasil. Ele afirma que seu primeiro trekking foi aos 5 anos, quando fugiu com sua mãe da Coréia do Norte para a Coréia do Sul, por causa da invasão dos soviéticos.
Sua disposição é de impressionar. Junto com ele a Sra. Maeda é responsável pelas deliciosas refeições servidas numa enorme mesa comunitária.
O jantar é o momento onde os montanhistas se juntam para trocar experiências e também escutar muitas histórias do Sr. Maeda.
Para quem gosta de explorar as montanhas, esse é um lugar ideal. À noite, se não tiver nuvens, é hora de se deslumbrar com as estrelas.
Residente no Brasil há mais de 50 anos, o Sr. Maeda deu início ao montanhismo no Brasil ao fundar em Campinas/SP o Clube de Montanhistas.
Seu sonho era ter um local para servir de apoio aos amantes do montanhismo e que ficasse próximo às montanhas. Esse sonho se realizou com a construção de sua pousada na Serra da Mantiqueira.
Maeda também construiu o Museu do Montanhista, que ocupa um espaço em sua pousada. Nesse museu está reunido um grande acervo e documentos/fotos sobre o montanhismo no Brasil.
Com capacidade para acomodar até 30 hóspedes e uma área de Camping que comporta até 15 barracas, na época da floração das hortênsias todo o campo fica florido. São milhares de hortênsias que formam um cenário indescritível.
Há também várias cachoeiras, como a Cachoeira Santa Barbara aos pés do Pico dos Marins, a Cachoeira na Estrada Cata dos Marins e a Cachoeira do Cubatão com 50 metros. Cercada de araucárias, ela espalha suas águas sobre pedras formando outras quedas em diversas direções.
Devido à altitude, o clima de Marmelópolis é considerado como um dos mais frios do Brasil. Nessas épocas, os campos ficam cobertos de gelo e lembra as pequenas vilas portuguesas.
No alto das montanhas a neblina pode surpreender os montanhistas a qualquer momento. Em épocas mais frias, a temperatura pode ficar entre 00º a -08º, bem propício ao cultivo de pêssegos, ameixas, peras e marmelos e à criação de trutas.
Em seu calendário de eventos, destaca-se a Festa do Pinhão e do Marmelo, que deu origem ao nome da cidade. Geralmente a Festa do Marmelo é realizada no final do mês de março, quando há apresentação de muitos shows e projetos artísticos.
De sua época gloriosa há inúmeros “causos”. Segundo contam, no passado a região era habitada pela tribo dos índios Timbiras, que desapareceram com a chegada dos primeiros colonizadores. Um deles era o alferes Antônio José Ribeiro, que veio do Rio Grande do Sul junto com sua esposa e filhos, na esperança de encontrar ouro.
O garimpo de ouro teve início num local chamado Cata dos Marins, de onde saia muito ouro. Logo o alferes formou uma grande fazenda, onde plantava milho e feijão, mas também criava muitos porcos. Dizem que nessa fazenda havia um enorme chiqueirão todo cercado por valas feitas pelos escravos da fazenda.
Algumas valas ainda existem no meio da mata, como por exemplo, a vala próxima da “Ponte Alta”. As araucárias ajudavam na alimentação dos porcos com seus deliciosos pinhões.
Os porcos do mato vinham à procura de alimentos e os escravos faziam armadilhas para caçá-los no alto do morro, que até hoje é conhecido como “Alto do Chiqueiro”. Nesse local hoje existe uma torre de telefonia celular.
Com a Guerra do Paraguai em 1864, o filho do alferes Manoel Ribeiro foi convocado para comandar uma tropa, tendo recebido o título honroso de Capitão Neco. Em torno da fazenda nasceu um pequeno povoado.
Com a Guerra do Paraguai em 1864, o filho do alferes Manoel Ribeiro foi convocado para comandar uma tropa, tendo recebido o título honroso de Capitão Neco. Em torno da fazenda nasceu um pequeno povoado.
Quando Manoel estava para se casar, ele mandou fazer uma queimada para limpar um campo onde pretendia construir uma casa grande com um paiol e uma senzala. Daí surgiu o nome do antigo povoado, que era chamado Queimada.
vista de Marmelópolis |
Segundo o tataraneto do Capitão Neco, seu tataravô tinha dois filhos. Um deles era bom e tratava bem seus escravos. Mas o outro, conhecido como Bebiano, judiava muito de seus escravos.
Certa vez, uma de suas escravas que estava grávida, ao passar pela cozinha da casa viu uma linda cesta de laranjas em cima da mesa e pegou uma sem ordem.
Ao ser descoberta, Sr. Bebiano amarrou-a num tronco e bateu nela com a chibata até a escrava morrer. Ela foi enterrada num local onde tempos depois nasceu um formoso pé de laranja, cujo fruto era muito doce, como jamais havia sido experimentado.
Mesmo depois de serem libertados, 5 deles resolveram permanecer na fazenda. O pé de laranja não existe mais, mas a história continuou viva na memória da cidade.
Em 1914, Manoel que era o filho mais novo do Capitão Neco, trouxe para a região as primeiras mudas de marmelo. Originário da Pérsia, o marmelo foi trazido para o Brasil em 1532 por Martim Afonso de Souza.
Devido ao solo e clima, os marmeleiros adaptaram-se facilmente e em 1935 a agricultura do marmelo já era extensa. Com a instalação das fábricas de doces, fez-se necessário a construção de uma estrada 22 Km, que liga a cidade até Delfim Moreira/MG.
fruto do marmelo |
Por volta de 1962 havia milhares de pés de marmelo, época em que a cidade passou a ser chamada de Marmelópolis. Porém no início dos anos 80, a produção de marmelo começou a diminuir.
As frutas passaram a ser importadas de países vizinhos e o que se produzia na região de Marmelópolis foi ficando estocado e causando perdas e dívidas para agricultores e industriais. Por isso, a maioria dos agricultores aderiu à plantação de outros produtos, restando apenas alguns.
Das fábricas que existiram, algumas foram demolidas; outras desabaram com o tempo. A primeira fábrica era da Colombo. É também dessa época a extinta Fábrica da Cica, cujo slogan era: "Se a marca é Cica, bons produtos indica". Porém, essa fábrica da CICA não existe mais. Ela ficava no local onde atualmente está a praça e o coreto.
O Sr. Zequinha Camargo, hoje já falecido, foi um dos poucos cidadãos de Marmelópolis que continuou a produzir, mesmo que caseiramente, a marmelada caseira. Os filhos fundaram uma pequena indústria de doces e deram continuidade a produção da típica marmelada de Marmelópolis: uma delícia!...
Lãs, linhas e madeiras são transformadas em arte e várias peças artesanais podem ser encontradas no Centro de artesanato, que compõe a pracinha em frente à igreja.
Acordar junto com o canto do galo, sentar ao pé do fogão à lenha, saborear queijos, marmelada caseira e o suco de marmelo no aconchego das hospedarias, é um jeito de desfrutar da hospitalidade mineira de sua gente.
Igreja matriz de Marmelópolis |
A padroeira da cidade é Nossa Senhora do Desterro. Por representar a fuga da Sagrada Família para o Egito, também é conhecida como Nossa Senhora da Fuga. Venerada na Itália como a "Madonna degli Emigrati", a santa é considerada protetora dos refugiados e daqueles que procuram trabalho no estrangeiro.
Nessa pacata e tranquila cidade, uma curiosidade chama atenção. Logo cedo vários portões já estão com saquinhos contendo pão e leite. Ninguém rouba, ninguém mexe, até o dono sair para pegar.
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